Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) realizaram um estudo que revelou uma ligação entre certos traços de personalidade e a insônia. Publicado na revista Journal of Sleep Research, o estudo sugere que indivíduos com altos níveis de instabilidade emocional, ou neuroticismo, enfrentam mais dificuldades para dormir. Esta descoberta lança luz sobre a complexa interação entre personalidade e qualidade do sono.
A pesquisa envolveu 595 adultos, com idades entre 18 e 59 anos, divididos em dois grupos: um com diagnóstico clínico de insônia e outro sem queixas de sono. Os participantes responderam a um questionário que avalia cinco dimensões de personalidade: extroversão, neuroticismo, amabilidade, abertura à experiência e conscienciosidade. Os resultados indicaram diferenças significativas entre os grupos, especialmente no traço de neuroticismo.
Quais traços de personalidade foram analisados?
O estudo focou em cinco dimensões de personalidade, frequentemente utilizadas em pesquisas psicológicas:
- Extroversão: Relacionada à sociabilidade e energia.
- Neuroticismo: Associado à instabilidade emocional e ansiedade.
- Amabilidade: Refere-se à cooperação e empatia.
- Abertura à Experiência: Envolve a curiosidade e a criatividade.
- Conscienciosidade: Relacionada à disciplina e organização.
Entre os insones, 61,7% apresentaram altos níveis de neuroticismo, em comparação com 32% dos que dormem bem. Além disso, os insones mostraram índices mais baixos de abertura, amabilidade e conscienciosidade. Esses achados são particularmente relevantes para países em crescimento urbano acelerado como o Brasil, onde estresse e demandas sociais podem influenciar o bem-estar psicológico.

Como a ansiedade se encaixa nesse cenário?
A ansiedade, frequentemente associada ao neuroticismo, pode ser um fator crucial na relação entre personalidade e insônia. Indivíduos com altos níveis de neuroticismo tendem a experimentar mais ansiedade, o que pode interferir na capacidade de relaxar e adormecer. A ansiedade pode aumentar a ruminação noturna, dificultando ainda mais o início do sono e a manutenção de um descanso reparador. Estudos semelhantes foram realizados em outras regiões, como na Europa, que também identificaram padrões correlatos entre ansiedade e questões de sono.
Por que essas descobertas são importantes?
Compreender a ligação entre traços de personalidade e insônia pode ter implicações significativas para o tratamento e a prevenção de distúrbios do sono. Ao identificar indivíduos em risco devido a características de personalidade, profissionais de saúde podem desenvolver intervenções mais personalizadas. Além disso, essa pesquisa pode incentivar o desenvolvimento de terapias que abordem tanto a saúde mental quanto a qualidade do sono, promovendo um bem-estar geral mais equilibrado. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a integração de fatores psicológicos é fundamental para terapias universais eficazes.
Essas descobertas ressaltam a importância de considerar fatores psicológicos no tratamento da insônia, oferecendo novas perspectivas para abordagens terapêuticas e intervenções preventivas. A integração de estratégias de manejo de estresse e ansiedade pode ser um o crucial para melhorar a qualidade do sono em pessoas com traços de personalidade que as predispõem à insônia.